terça-feira, 29 de setembro de 2015

Professora volta a vender biscoitos para climatizar nova escola

Professora quer climatizar escola que dirige atualmente, em Macapá.
Em 2013, ela comprou 16 ares-condicionados e 105 instrumentos musicais.

John PachecoDo G1 AP
Aparelhos serão instalados nas 13 salas de aula da escola Coaracy Nunes (Foto: John Pacheco/G1)
Aparelhos serão instalados nas 13 salas de aula da
escola Coaracy Nunes (Foto: John Pacheco/G1)

A professora aposentada Elba Rosa Dias, de 64 anos, diretora da Escola Estadual Coaracy Nunes, no Centro de Macapá, está repetindo o que fez em 2013, quando geriu a Escola Estadual Nilton Balieiro. À época, com a venda de biscoitos, ela comprou 16ares-condicionados e 105 instrumentos musiciaispara a instituição. Em nova escola, ela pretende, com a ajuda de alunos, professores e comunidade, climatizar as 13 salas de aula do colégio que abriga cerca de 700 estudantes com idades entre 7 e 12 anos.

Elba calcula que deva precisar de R$ 50 mil para pagar os aparelhos, já adquiridos em compra parcelada, para a escola. Ela diz que pretende levantar esse valor vendendo biscoitos à base de 
trigo e manteiga, conhecidos como "Monteiro Lopes", além de produtos de limpeza, como desinfetantes e sabão, feitos dentro da própria instituição.

Com a venda de biscoitos Monteiro Lopes, Elba Rosa conseguiu comprar centrais de ar e instrumentos musicais (Foto: Abinoan Santiago/G1)
Com a venda de biscoitos, Elba Rosa pretende
pagar climatização (Foto: Abinoan Santiago/G1)


"Já comprei as centrais e agora a comunidade está ajudando porque parcelei de dez vezes. 
Comprei no meu nome, mas assim que estiver tudo pago vou repassar para a escola e todas as salas serão climatizadas. Hoje, as crianças se sentem mal e ficam levantando toda hora. 
Os ventiladores das salas são precários, e o aluno não sabe se estuda ou fica limpando o suor", falou.

A venda dos biscoitos, cerca de 200 por dia a R$ 0,50, é feita dentro da escola. Os doces são produzidos pela própria diretora. A fabricação do sabão, desinfetante e água sanitária foi 
ensinada através de cursos para professores e alunos. O sabão é feito de óleo de cozinha 
reutilizado. Com a produção de itens próprios e geração de receita, a diretora fala em 
"auto-sustentabilidade" e economia de recursos do Caixa Escolar.

"Podemos fazer também a nossa parte e não depender somente de recursos do governo. 
Temos muito apoio aqui. Estou há dois meses aqui nessa escola e fui bem recebida pelos 
professores e pelo corpo técnico. Quando dá, também achamos outras formas de arrecadar 
dinheiro, como sorteios e rifas", destaca Elba.

Produtos de limpeza feitos dentro da própria escola em Macapá (Foto: John Pacheco/G1)
Produtos de limpeza feitos dentro da própria escola, em Macapá
(Foto: John Pacheco/G1)

A iniciativa da professora na escola também atraiu a atenção dos pais dos alunos, que 
decidiram se incluir ainda mais no ambiente escolar. É o caso do eletricista Rodinaldo 
de Oliveira, de 52 anos. Ele tem dois filhos na instituição, e se prontificou a instalar 
as centrais e adaptar a rede elétrica das salas aos aparelhos. Segundo ele, todo o apoio 
será voluntário.

"É uma excelente ideia que vai ajudar bastante nos estudos das crianças. Elas reclamam 
e até passam mal. Não podemos só esperar do governo, temos que nos ajudar. 
Não é para nós, é para nossos filhos. Se todos ajudarem vai melhorar ainda mais a escola",
frisou Oliveira.

A professora Nazaré Correa defende que o bom ambiente e o conforto nas salas a partir da 
colocação das centrais será um impulso no aprendizado das crianças. "É muito importante 
que a comunidade participe do desenvolvimento intelectual, social e econômico da escola. 
Nesse momento que estamos atravessando, de crise, não podemos esperar apenas pelo poder público", reforçou.

O problema com o calor nas salas não é exclusividade da Coaracy Nunes. 
Um levamentamento da Secretaria de Estado da Educação (Seed) apontou que 102 das 
402 escolas da rede precisam passar por reformas em que serão necessárias mudanças 
nos sistemas de ventilação dos prédios. É que mesmo onde tem ventiladores, eles 
não são suficientes paracombater o calor.

A previsão de início das reformas é para 2016. De julho a novembro é o período mais 
quente do ano no Amapá, onde a temperatura fica em torno de 35ºC, com sensação 
térmica de 40ºC.

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