sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Pierre Santos Vilela: o desafio da sustentabilidade (Agricultura)

Pierre Santos Vilela - Hoje em Dia




A agricultura brasileira se desenvolveu inicialmente em ciclos econômicos. 

Do descobrimento até a primeira metade do século XX, eram baseados na monocultura ou extrativismo, primeiramente com pau brasil e seguindo com cana (açúcar), borracha, tabaco, pecuária (couro) e café.

Nos anos 1950, uma onda de modernização - apoiada pela genética, insumos químicos e mecanização - conhecida como Revolução Verde -, surge dos esforços em pesquisa e extensão para a recuperação da capacidade produtiva do Hemisfério Norte no pós-segunda guerra. 

Essas tecnologias foram disseminadas e chegaram ao Brasil na década de 1960.

Desse momento em diante, a agricultura brasileira prosperou com base em ciclos tecnológicos, impulsionados pela criação dos sistemas brasileiros de pesquisa agropecuária, capitaneado pela Embrapa, e de extensão rural. 

Tais avanços permitiram a diversificação da produção e a expansão da área agrícola, inclusive sobre o Cerrado, antes considerado inaproveitável. Posteriormente, significativos ganhos em produtividade conferiram ao país a posição de um dos principais produtores de alimentos do mundo e a abriram a possibilidade de preservar cerca de 60% de seu território com florestas nativas.

O salto populacional foi proporcional aos ganhos de capacidade produtiva agrícola aqui e mundo afora ao longo dos anos. 

Em 1950, a população mundial girava em torno de 2,5 bilhões de pessoas, chegando a 7 bilhões em 2011. Ou seja, a tecnologia agrícola permitiu, dentre outros avanços, como a medicina, o crescimento de 180% da população mundial em apenas 60 anos.

Tanta gente no mundo em tão pouco tempo passou a gerar crescentes desequilíbrios e a preocupação com o futuro se tornou premente. Devemos, então, ser sustentáveis, para podermos ter futuro. 

Disseminou-se o famoso tripé: ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.

No Brasil, os agricultores são constantemente surpreendidos por novas legislações, normas e regulamentos, destacadamente nos campos ambiental e trabalhista. 

Mudanças que trazem mais e mais obrigações, a despeito da capacidade dos agricultores em cumprir, de seu alcance - vez ou outra, duvidoso - ou mesmo de sua factibilidade.

Agricultores, por exemplo, submetidos à seca ou excesso de chuvas, em determinado momento, terão perdas de produtividade e - sem o seguro - de rentabilidade. 

Terão seu patamar de sustentabilidade modificado por um fator natural ou do ambiente, que refletirá no econômico.

Temos de ser sustentáveis, mas haverá sempre o rigor das leis para proteger o ambiente e a sociedade, enquanto o agricultor fica à mercê do mercado e da fragilidade da política agrícola. 

O que talvez falte aos que apregoam a sustentabilidade é compreender, assim como a economia, sociedade e ambiente praticam, o conceito de entropia.

Se temos ambiente, sociedade e economia dinâmicos, não podemos imaginar a sustentabilidade como algo alcançável, mas sim almejável


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