O
Brasil tem se tornado referência na geopolítica da produção agrícola.
A sustentabilidade
da produção e adequação ambiental são indissociáveis.
Antonio Roque Dechen
Especial para o
Agrodebate
Antonio Roque Dechen (Foto: Assessoria/CCAS)
A
agricultura e a agroindústria formam um dos segmentos mais complexos e
dinâmicos da economia brasileira. A recente crise mundial, e principalmente a
brasileira, evidenciam a importância do agronegócio na sustentabilidade e
estabilidade da nossa economia.
A
tecnologia na agricultura mundial teve grande desenvolvimento com a
contribuição de Justus von Liebig que, em 1840, publicou o livro
“A
química agrícola e sua aplicação na agricultura e fisiologia”, merecendo
destaque o alerta: “Eu sei muito bem que a maioria dos agricultores acredita
que sua maneira de fazer é a melhor e que suas terras jamais deixarão de dar
frutos.
É
esta doce ilusão que escondeu das populações a relação que existe entre a
fertilidade do solo e seu futuro e que fez nascer a indiferença e a incúria que
demonstram a esse respeito.
Tem
sido assim entre todos os povos que foram instrumentos de sua própria ruina, e
não há sabedoria politica que possa proteger os estados europeus de um destino
semelhante, se os governos e os povos fecharem seus olhos para os sintomas de
empobrecimento dos campos, e se continuarem surdos aos avisos da ciência e da
história”, (Liebig, 1862).
O
ensino e a pesquisa agrícola no Brasil tiveram início com a inauguração da
Escola Imperial de Agronomia da Bahia em
1877 e da Estação Agronômica deCampinas em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, instituições
essas pioneiras em ensino e pesquisa e ainda jovens aos 138 e 128 anos,
respectivamente.
O
Brasil, pela sua extensão territorial, disponibilidade de água, biomas diversos
e condições climáticas favoráveis para a produção agrícola com grande
diversidade de culturas, tem merecido atenção internacional, tornando-se
referência na geopolítica da produção agrícola mundial.
Em
2006, Norman Borlaug, Nobel da Paz, o pai da Revolução Verde, em uma de suas
visitas ao Brasil, ao ser perguntado sobre como via o futuro da produção
agrícola no Brasil respondeu que não se tem como competir em produção agrícola
com um país com a extensão territorial do Brasil que tem água e sol todos os
dias, condições estas indispensáveis para o processo fotossintético e produção
de alimentos.
Hoje,
a sustentabilidade da produção agrícola e a adequação ambiental são
indissociáveis. Grandes avanços estão ocorrendo na agropecuária brasileira e
para continuar crescendo e firmando-se nas posições de liderança da produção, o
Brasil precisa também posicionar-se na liderança da implantação de ações de
sustentabilidade.
A
adoção de tecnologia na utilização dos solos sob cerrados possibilitou grande
expansão da área agrícola e substancial aumento da produção, bem como de
reconhecimento internacional.
Em
2006, Alisson Paulinelli, Edson Lobato e Andrew Colin McClung (americano que
foi pesquisador do IBEC-Research em Matão, SP) foram contemplados com o Prêmio
Mundial da Alimentação (World Food Prize), pelas ações pioneiras em ciência do
solo e políticas de implementação na abertura de áreas de cerrados no Brasil
para a agricultura e produção de alimentos. Esse prêmio foi criado em 1986 pelo
laureado com o Nobel da Paz, Norman Ernest Borlaug.
(Foto: Divulgação/Agência de Notícias do Paraná)
Em
levantamento recente realizado e divulgado pela Agroconsult, pela primeira vez
a safra brasileira de grãos superará a marca de 200 milhões de toneladas, e o
plantel de gado já supera 200 milhões de cabeças, o que levou André Pessoa,
coordenador do Rally da Safra, a fazer a seguinte afirmação:
“o
Brasil é um dos poucos países do mundo que produz uma tonelada de grãos por
habitante e tem também uma cabeça de gado por habitante”.
Parece
pouco, mas em um país em que a população rural é de apenas 15%, e apenas o PIB
do agronegócio tem sido positivo nos últimos anos, é uma demonstração de muita
tecnologia, trabalho e eficiência.
Outro
fator de crucial importância na sustentabilidade da produção agrícola
brasileira foi a adoção e implantação do sistema plantio direto no Brasil,
tecnologia que revolucionou a agricultura brasileira e que começou no Paraná e
teve como protagonistas Herbert
Bartz, Manoel Henrique Pereira e Franke Dijkstra.
Hoje
mais de 30 milhões de hectares no Brasil são cultivados no sistema plantio
direto, com contínuo crescimento e consolidado graças ao grande desenvolvimento
de pesquisas na área.
Não
podemos esquecer jamais de que nossa sustentabilidade depende do sol, da água e
do solo. Cuidando adequadamente de nossos recursos naturais poderemos continuar
dizendo que: o solo é a nossa pátria e cultivá-lo e conservá-lo garantem a
sustentabilidade e nossa vida. Cabe aos profissionais da área agronômica a
geração de sólida tecnologia para a promoção de uma agricultura progressista,
econômica e sustentável, em benefício das gerações futuras.
A
ONU, em 1987, definiu no Relatório Brundtland: “desenvolvimento sustentável é
aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de
as futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades”. Liebig, 1862,
disse: A sustentabilidade do agroecossistema depende da habilidade do
agricultor em manter a produtividade do solo. Mencionando Paulinelli (2015), a
agricultura e a pesquisa têm que avançar.
Antonio
Roque Dechen é presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável
(CCAS), professor titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP,
presidente da Fundação Agrisus e membro do Conselho do Agronegócio
(COSAG-FIESP).
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